O ipê é um fenômeno

ipêamarelo

O ipê é tão clichê em Brasília quanto a palmeira é na praia e o cajueiro, em Pirangi. O ipê é tão instagramável, do verbo imaginário instagramar, quanto prato chique de restaurante e a exposição da Yayoi Kusama no CCBB. O ipê é um fenômeno: falamos as mesmas frases sobre ele e tiramos as mesmas fotos, ano após ano, e ele não enjoa, não amola.

Dois anos atrás, também em setembro, escrevi espantada com a sincronia olímpica do ipê. Disse que ele parecia contar um, dois, três e já. Mas hoje, dirigindo pelo eixão, mudei de ideia. Acho que ele não conta nada. O ipê é um fenômeno: simplesmente… pá. Explode.

Essa aparição abrupta continua sendo um mistério pra mim. Porque, não sei se você percebeu, mas o ipê sempre esteve naquele lugar, o ano inteiro, e ninguém nunca prestou atenção. Para os meus olhos leigos, até a explosão, ele é uma árvore igual às outras, com galhos marrons e folhas verdes, camuflado no meio do nosso jardim. Só que as folhas desaparecem todas de uma vez, assim, sem mais nem menos, como quem sabe a hora de pôr fim às coisas, de sair de cena. E generoso, o verde abre espaço para o amarelo brilhar. É ou não é um fenômeno?

Além de tudo, o ipê possui conhecimentos meteorológicos, pode reparar. No fim de agosto, ele fica naquele vai-não-vai. Umas flores brotam aqui, outras ali, mas numa timidez danada, todo desconfiado. Até que vem a chuva derradeira. A tempestade que limpa a poeira pela última vez na seca. Só então, confiante e abusado, ele explode com tudo. Um fenômeno esse ipê.

A sincronia olímpica do ipê amarelo

Setembro, auge da seca brasiliense, a gente parece ter perdido o último verde que restava. Então você vai dormir com tudo marrom à sua volta e, horas depois, acorda em uma cidade diferente: os ipês pintaram Brasília de amarelo.

Quantas vezes você viu isso acontecer? E quantas vezes você se surpreendeu com esse mistério do cerrado? A sincronia dos ipês é tão incrível que a gente toma um susto, o mesmo susto bom, todos os anos.

No eixão norte e sul, ao lado do bar, na frente do bloco, perto do trabalho, no caminho da escola: é inacreditável, todas aquelas árvores explodem de cor ao mesmo tempo. Parecem contar um, dois, três e já.

Além da sincronia olímpica, a minha admiração pelo ipê vem do seu senso de oportunidade. É a beleza certa na hora certa, exatamente no momento em que a cidade mais precisa de cor, de paciência. Você olha aquele amarelo berrante no fundo azul e esquece do calor, do hidratante, de tudo. É a inteligência do cerrado dizendo ei, nem tudo é preto e branco.

E na velocidade que vem, o amarelo vai… Talvez porque queira chamar sua atenção. A gente costuma olhar mais quando sabe que vai durar pouco. Será?

PS: As fotos aqui foram postadas entre domingo e segunda, no Instagram. A de cima é do @nivasgallo. As de baixo, por ordem: @antbrito, @cesarkazuo, @gabribarcelos, @kemy_chan, @licawb, @rsavio. Vai ser uma semana de amarelo nas redes sociais, mas esse é um tipo raro de viral: não enjoa!

                     

Bora?
Dá uma olhadinha no ipê mais perto de você. Vai dar tudo certo!