Apenas deixe ela em paz

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É uma das faces mais visíveis do machismo, mas que até bem pouco tempo era tão naturalizada que muita gente nem via como um problema: o assédio à mulher no espaço público.

Do assovio à passada de mão, do elogio malicioso e descontextualizado ao ato nojento de se masturbar diante de uma mulher dentro de um ônibus, da perseguição ao estupro. O assédio tem vários níveis, vários jeitos de acontecer e nos vitima de várias maneiras – não só com a agressão em si mas plantando dentro da nossa cabeça a semente do medo, da falta de liberdade, que cria raízes e é impossível de ser arrancada de lá.

A boa notícia é que hoje há várias iniciativas de visibilidade e de combate ao assédio – uma das minhas preferidas nasceu no Recife pelo coletivo de mulheres Deixa Ela Em Paz.

O nome já diz tudo. É isso. Sério, eu não vou falar mais nada sobre essa mudança urgente de comportamento porque está tudo dito no nome dessa campanha. Deixa ela em paz. A menos que haja o mais tênue sinal de que a garota esteja na sua, guarde a merda do seu desejo para você. Apenas. É muito difícil?

Só que agora, além de jogar luz sobre a injustiça, o absurdo do assédio, essas meninas guerreiras estão levantando grana pra ouvir mulheres nas cinco regiões do Brasil para assim mapear as necessidades urgentes da mulherada de diferentes realidades. Feito o diálogo, as meninas vão propor ações que respondam a essas necessidades.

O nome do projeto é Circuito de Enfrentamento Urbano – o CEUparaMulheres – e elas precisam da ajuda de cada um e cada uma de nós. Bônus incrível é que as recompensas da ação são bem legais mesmo. Divulgar esse cartaz, essa camiseta, essa mensagem por aí já é fazer sua parte na urgência de fazer pensar sobre o assédio.

Tem mais: quem aderir à campanha até sexta-feira ainda ganha um lambe-lambe tamanho A3 com a ilustração feita especialmente para CEU para Mulheres da artista Nathalia Queiroz.

Bora?
Campanha CeuParaMulheres da Deixa Ela Em Paz

O piquenique perfeito

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Não sou muito dada a perfeições: pra mim o perfeito é o espontâneo, é o menos complicado e, principalmente, o que de fato aconteceu. Se a gente gasta tempo demais elaborando uma vida de Pinterest corremos o sério risco de paralisar e deixar escapar a vida real.

Isso é especialmente verdade quando o assunto é piquenique – porque, vamos combinar, piquenique de Pinterest dá trabalho. Fazer comidinhas lindas, fazer arranjo de flores, ter a toalha perfeita e ainda por cima levar tudo isso até um jardim agradável, prender bandeirinha, encontrar uma sombra… Só de listar já perdi a coragem.

Minha estratégia normalmente é menos glamurosa e mais prazerosa: pensar num lugar com um parquinho, fazer meia dúzia de sanduíches gostosos, comprar uns cookies prontos, botar cervejinha pra gelar e já é. Sejamos reais.

O problema que tenho enfrentado é a dificuldade de arrastar pra esse programa as pessoas que me ensinaram a amar piquenique décadas antes de isso ser moda: minha mãe e meu pai. Tá complicado pros coroas ficarem sentados na toalhinha xadrez sobre o gramado. Doi o bumbum, doem as costas – eles passam quinze minutos, dão a desculpa que têm de visitar a tia da vizinha e se mandam.

Por isso achei bem útil a ideia do Piquenique-se, uma marca de móveis de piquenique, mesas baixinhas, pufes confortáveis – tudo pra você curtir o programa sem ter dor nas costas. Bonitinho, né?

Essas belezinhas estão em exposição no Ernesto Café, em cafés da manhã especiais de domingo, já há algumas semanas. Amanhã é a última edição, que já está com as reservas esgotadas. Mas vale piquenicar nos gramados ao redor e dar uma olhada no seu próximo investimento de piquenique perfeito.

Bora?
Piquenique-se no Ernesto Café
Amanhã, 5/6, das 7h às 22h
CLS 115 Bloco C Loja 14
3345-4182

Flor, café, livro e eu

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Existe um café bem singelo, bem simplinho, bem no meio de todas as flores e plantas do Pólo Verde, na saída pra Sobradinho. E eu não sabia disso.

Eu, que vou ao Pólo Verde só pra. Assim mesmo, sem motivo. Pra comprar óleo de neem, que eu podia comprar na quadra do lado da minha. Pra comprar um terrário de presente, que eu poderia comprar por telefone. Pra “ver preço” – que, na verdade, quer dizer “sem motivo”, só pra ir e ficar e ver as flores e andar pra lá e pra cá e pensar na vida.

Agora eu tenho um motivo a mais. Levo meu livro, tomo um café, ouço a turma da aula de mosaico animadíssima nas mesas ao lado. E fico lá.

Bora?
Café Aroeira
Pólo Verde, na saída para Sobradinho
Fechado aos domingos e feriados.

O que é trabalho?

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É assim: o mundo está mudando tão rápido, e tudo me parece tão aberto nesse momento, que o que deveria ser um post simples sobre um espaço de co-working ganha título típico da coleção Primeiros Passos, que na minha época marcava os semestres iniciais de qualquer curso de humanidades.

Fui conversar com a Heloisa Rocha, sócia do Co-Piloto, e saí com várias perguntas na cabeça: trabalho é o que te paga as contas? É o que te realiza? É o que te ocupa várias horas por dia? É o seu serviço público ou são seus projetos paralelos? Dinheiro é fundamental?

Entre a turma que aluga espaços de trabalho nessa sobreloja em cima da Endossa você encontra de tudo: agências de publicidade, de redes sociais, ilustradores, artistas, produtores. Gente que aluga uma mesinha, uma sala, sala de reuniões; por mês, por dia, por algumas horas. Gente que está se pagando bem, gente que está se virando apenas, gente que nem ganha dinheiro – mas que troca trabalho e competências com outras gentes que também estão por ali.

Essa foi a parte que mais me impactou: quando recebe interessados em ocupar parte do escritório coletivo, a Helo entende os projetos, escuta, busca canais pra que negócios aconteçam ali dentro mesmo. Para que um alavanque o projeto do outro, para que todos tenham ideias em conjunto, se inspirem, se ajudem, cresçam juntos.

A gente vive tempos esquisitos, arriscados – além de raro, o trabalho está precário, há insegurança, há riscos e há crise. E há, pra piorar, gente tentando nos convencer que combater tudo isso é uma questão apenas de vontade de trabalhar. Não, não é.

Mas a prova de que a gente sabe fazer a nossa parte, e de que apesar dos pesares estamos investidos nisso, está nessa turma aí, que divide mesas, cadeiras, salas – que compartilha espaço de trabalho, vida, projetos e sonhos.

Bora?
Co-piloto
Espaços de trabalho para aluguel
SCLS 306 Bloco A loja 33 Sobreloja
3256-9003

Papo reto antes da folia

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Já está todo mundo esquentando os tamborins – e a gente também. Mas antes vamos dar um papo reto.

Fevereiro, né?, e todo mundo já esqueceu as promessas de ano novo de um mês atrás. Então deixa eu te lembrar: pra muitos de nós a lista incluía cuidar mais do outro, fazer um trabalho voluntário, sair do seu umbigo e ser uma pessoa melhor.

Pois eis uma oportunidade de ouro: o projeto Inglês na Estrutural garante aulas de inglês gratuitas, ministradas por voluntários do Coletivo da Cidade para crianças e adolescentes que moram na Cidade Estrutural, ali na ponta do Eixo Monumental.

O Coletivo da Cidade trabalha com a infância e adolescência daquela região do Distrito Federal, oferecendo opções no contra turno escolar – arte e educação que podem ser meio de transformação social.

Não é complicado fazer parte: basta saber inglês em um nível bacana e ter as manhãs de sábado livres – além de algumas horas a mais por semana pra cuidar da preparação das aulas e das tarefas. Não precisa ser professor nem ter experiência prévia. Você não vai estar sozinho: são cinco professores que trabalham juntos, e a ideia é todo mundo se apoiar.

Aqui tem um documento que explica tudo direitinho e um vídeo que explica um pouco mais do projeto.

Bora?
Inglês na Estrutural busca voluntários

O que precisa:
– Comparecer ao treinamento pedagógico, dia 27/02;
– Dar 2 aulas de inglês por mês, aos sábados, das 9h às 12h (de 05/03 a 09/07)
– Participar de 2 reuniões pedagógicas (1 por bimestre), em horário e local a serem definidos, para que todos possam comparecer;
– Se responsabilizar pelo Projeto. Como a construção desse é feita de forma coletiva, a falta de comprometimento de um membro prejudica a todos!
– E, principalmente, amar seus aluno/as ❤

Faxina geral

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“Bagunça organizada”. “Só eu entendo minha lógica”. “O caos necessário à criação”. NOGUEIRA, Carolina, desde sempre.

Pois ontem peguei minha resolução de ano novo com as duas mãos e botei tudo abaixo. Tirei todo meu material de desenho das caixas: tintas, canetas, goivas, blocos, pinceis – tudo o que eu uso muito menos do que deveria, e que desconfio que seja justamente porque andava demasiadamente escondido, dos meus olhos e do meu coração.

Confesso que foi em leituras meio fúteis que me dobrei aos mantras que minha mãe repetia desde que nasci (e que repito em vão pros meus filhos): as meninas do Oficina de Estilo me convenceram de que é melhor ter menos, mas totalmente à mão, do que ter um monte do que você nem lembra que tem.

Voltei meu foco instintivamente pras minhas caixas e caixas de material de desenho. Ao contrário da balela do caos criativo onde sempre me escondi, passei a achar que a urgência da organização ali é ainda maior: se já é trabalho danado transformar a ideia em desenho, imagina se a canetinha que ele pede estiver dentro de uma caixa, atrás do grampeador, debaixo do rolo de fita crepe, com o barbante levemente apoiado sobre ela. Na criação, a técnica inspira a obra – então as ferramentas simplesmente têm de estar por perto.

Feito o inventário da minha vida artística, caí neste texto incrível do meu querido João Rafael Torres. Pronto. Oportunidade perfeita pra dividir com você as lindezas que esse moço escreve e deixar o convite: bora dar uma faxina na vida?

SOS crianças em casa

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O Beto costuma dizer que, com os meninos de férias, a conta de telefone lá de casa dá um salto: com a gente no trabalho, os meninos ligam a cada cinco minutos. “Posso descer?”, “posso jogar?” e “meu irmão está me provocando” são as intervenções preferidas, expressão do tédio das longas horas sem nada pra fazer.

Se você sofre do mesmo mal e quer fugir das mesmas colônias de férias de sempre – o batidíssimo combo zoológico-cinema-piquenique – tenho aqui uma carta na manga.

O Fab Lab, incrível laboratório munido de impressora 3D que tem dado asas à imaginação de muito artista da cidade, realiza na semana que vem o Maker Kids, um ateliê de criação que inclui novas tecnologias no processo criativo e de descoberta das crianças. A ideia é colocar a turminha em contato com impressoras 3D, eletrônica, robótica e modelagem digital, botando a mão na massa para criar pequenos projetos que vão definitivamente jogar o tédio pra longe dessas férias.

E, de quebra, deixar a linha de telefone da sua casa um pouco menos congestionada.

Bora?
Maker Kids, do Brasília Fab Lab
CLN 305, Bloco B, Subsolo
3034-7073 e 9124-2302

Turma I – 11/01 a 14/01, dàs 9:30 às 12:30
Turma II – 18/01 a 21/01, dàs 9:30 às 12:30
Turma III – 25/01 a 28/01, dàs 9:30 às 12:30
Custo do curso semanal: R$ 585

Liberdade, 2016

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Que as liberdades individuais de cada ser humano sejam sagradamente respeitadas.

Que nossa liberdade de amar quem a gente bem entender seja preservada.

Que sejamos livres para cantar, para dançar, para tocar violão.

Para sair com nossos amigos até tarde. Até a manhã seguinte, se a gente quiser.

Que a liberdade religiosa seja garantida.

A liberdade de pensamento. A liberdade política. A liberdade de expressão.

Liberdade pro corpo, pra alma.

Nunca podia imaginar que em pleno 2016 eu fosse desejar tão ardentemente algo tão fundamental, tão essencial, tão típico dos tempos democráticos que pretensamente vivemos.

E no entanto, é meu único presente – é a única coisa que peço pra Brasília em 2016.

Liberdade, Brasília. Abra as asas sobre nós.

Obrigada, Balaio

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Poucas vezes vi tantas mensagens de solidariedade na minha timeline como hoje, com a repercussão do fechamento do Balaio Café. E o mais importante é que não são mensagens só de lamento. Quase todas têm o mesmo conteúdo: o de agradecimento. Um lugar fecha as portas e as pessoas se levantam imediatamente para dizer “muito obrigada por tudo”. Não pode ser um lugar qualquer.

Não, nesses 10 anos de funcionamento, o Balaio nunca foi um lugar qualquer, e não haveria de ser com uma dona como a Ju Pagul, mulher poderosa, de presença e ideias francas, militante cultural, feminista, agitadora de muitas áreas. Ali, na pracinha da 201 Norte, ela não instalou só um café. O Balaio sempre foi um espaço de resistência, de discussão. Vários seminários e oficinas de movimentos sociais tiveram o café como abrigo.

E também tinha a diversão, claro. Quem frequentou aquele lugar tem alguma(s) história(s) marcante(s) pra contar. A programação musical era a mais diversa que você pode imaginar, e a gente se misturava em todos os ritmos, de carimbó a música eletrônica, de forró pé de serra a pop, rock, jazz e… carnaval. Ah, os carnavais do Balaio. A festa, qualquer uma, sempre foi divertida, livre, diversa. Era uma casa aberta a todas as idades, gêneros, prazeres, amores – em uma cidade encaretada, era um lugar também necessário.

Nesta gestão do GDF, do governador mais boêmio de nossa história, um autoproclamado defensor da cultura, o Balaio sofreu as mais pesadas intervenções. Houve bomba de gás, fechamentos e multas e mais multas. O problema do café com a vizinhança não é segredo – o barulho é alegadamente a principal questão, mas o motivo real sempre foi contestado pela Ju.

Ela afirma ter feito reformas para adequar a casa à Lei do Silêncio e, ainda assim, continuar sofrendo sanções. Sexualidade, religião e militância: Ju afirma que suas características pessoais serviram de motivo para intolerância. Com mais de R$ 30 mil em multas, o funcionamento do café ficou inviável.

Quando começamos a escrever aqui sobre a necessidade de revisão da Lei do Silêncio, algumas pessoas entenderam isso como uma defesa à barulheira generalizada no ouvido alheio. O diálogo, ultimamente, tem se dado nesse nível de exagero. A questão é bem mais complexa e ponderada, quem acompanha a discussão do movimento “Quem Desligou o Som?” sabe disso.

A nossa preocupação sempre foi, além da asfixia cultural da cidade, a fiscalização seletiva: só o Balaio Café incomoda a esse ponto? A lei atual, mal feita e irreal, coloca no mesmo balaio (não resisti ao trocadalho) um barzinho, uma rave, um matagal inóspito e um hospital. A cidade inteira está fora da lei. E uma lei que coloca todos fora dela está dizendo o seguinte ao Poder Público: já que não dá pra punir todo mundo, pode escolher que tipo de lugar/evento/manifestação/movimento você vai cercear, fique à vontade. Critério para quê?

Dito isso, queria te fazer dois convites. O primeiro é se despedir do Balaio, que fica aberto só até domingo. Vamos lá, brindar ao fim de ótimos momentos e ao início de outros. É triste que a cidade perca um lugar feliz assim, mas a cidade se mexe constantemente. Espero que a energia do Balaio se espalhe em outros novos e velhos lugares.

O outro convite é para o Carnaval Silencioso, evento maravilhoso que acontece na sexta-feira, dia 18. Não sabe o que é? Escrevi aqui na última edição. Se a ideia já é ótima, na situação atual das coisas, então… Vai ser a melhor forma de exorcizar esta semana. Como diz a Ju do Balaio: “A nossa resposta sempre foi e sempre será beijos, risos, tambores, bailados e todo prazer!!!!”

Bora?
Balaio Café
Aberto até domingo, dia 20. Vamos lá dar um abraço coletivo!
(Depois da publicação deste texto, foi marcado um evento de despedida do Balaio. Vai ser no domingo, a partir das 14h, com muita arte, muita música e muita gente já com saudades. Evento no face: aqui)

Carnaval Silencioso
Sexta, dia 18
Concentração às 19h, no Beirute Norte (107N). Saída do bloco às 20h30 em direção ao Pinella (408N)
Evento no face: aqui

Não pira

troca

Acredite: se é que você não entrou ainda, você vai entrar no modo consumista-doido nos próximos dias. É inevitável. Ou quase. Mas antes disso, vou te fazer o convite mais importante de dezembro. Prestenção.

Sábado acontece na UnB a primeira feira de Troca de Valores. Como o nome mesmo diz, o que está em jogo aqui não são apenas peças de roupas, livros, sapatos – o que você tem e não quer mais. A ideia não é apenas fazer um brechó e fazer a energia circular – o que já não seria nada mau.

A questão mais massa dessa feira é que aqui não entra dinheiro. De jeito nenhum. Nem espécie, nem cartão nem nada. As trocas da feira vão acontecer na base do papo, da conversa, da amizade, da negociação. Minha bolsa pela sua blusa. Meu livro pelo seu colar. E um abraço selando o negócio.

Não precisa reservar, não precisa pagar espaço, não precisa se preocupar com nada. É chegar lá, estender sua canga, seus cabides, o que quiser – e se preparar pra trocar e fazer amigos.

O mantra da feira – olha que coisa mais linda – é: a gente não precisa de dinheiro, a gente precisa de amigos.

Muita coisa doida e péssima aconteceu neste ano de 2015. Mas alguma coisa ótima, e fora da curva de ótima, aconteceu também – e os alunos de São Paulo, com essa sua força revolucionária inacreditável, são o melhor exemplo disso.

Outro bom exemplo é a iniciativa dessa galera: continuar sonhando, continuar batalhando, continuar acreditando que uma sociedade mais justa, mais igual, mais divertida, mais solidária e mais maneira é, sim, possível.

Bora?
Feira de Troca de Valores
Sábado, 12/12, das 13h às 18h
UnB, ICC Norte