O que me quebra no Natal não são os presentes

cobogo

Eu preciso admitir isso: o meu problema com a gastança do Natal não é necessariamente os presentes que eu compro pras pessoas. Até porque todo mundo com quem eu convivo tem consciência de que simplesmente não dá pra comprar um mega-presente pra tanta gente amada. Uma lembrancinha e pronto – todo mundo se sente querido.

Meu problema é que, de lembrancinha em lembrancinha, eu vejo taaaanta coisa linda… pra mim! O difícil tá aí: segurar a carteira pra gente não acabar fazendo excessos em benefício próprio!

Pior é ver que a loja fofa com a melhor árvore da cidade está no esforço oposto do meu: sob o pretexto de tornar nossas comprinhas de Natal mais leves, alegres e agradáveis, o Cobogó vai me dar o maior trabalho do mundo este dezembro.

Pensa bem: eles vão estar abertos todos os domingos do mês – cada dia com um DJ diferente, artistas expondo, e aquele astral de sempre. Aquele astral e aquelas belezuras.

Ai.

Bora?
Todos os domingos de dezembro, no Cobogó
Este domingo, dia 1o., tem DJ Zé Maria Palmieri, as fotos muito legais que ele faz e as lindezas da Taís Joi e do Gurulino.
SCRN 704/705, Bloco E, lojas 51 a 56
3039-6333
Em dezembro, aberto também aos domingos. Sábado de 10h às 20h, domingo de 12h às 20h.

Vamos todos cirandar

ciranda

Meus finais de semana são uma eterna negociação: ok, a gente vai pro clube, mas na volta podemos almoçar num restaurante bonitinho (sem vocês fazerem muita bagunça)? Ou: eu passo rapidinho da feirinha fofa ao ar livre, rapidinho mesmo, juro – e de lá a gente corre pra brincadeira na casa das primas. Eles me demandam uma estratégia de convencimento que deixaria perplexos os líderes partidários do Congresso.

Por isso é que, pra mim, a alegria do findi é encontrar um eventinho que agrada todo mundo – e a Ciranda, ao que tudo indica será assim.

Pra mim e pro Beto, feirinha com mil lindezas, delícias e nossa sacrossanta cervejinha do sábado de tarde. Pros meninos, pula-pula e as bolhinhas de sabão. Ainda vai rolar um bate-papo muito fofo, apelidado de “sessão desabafo sobre os dilemas da maternidade” e, pra quem tem pequenininhos realmente pequenininhos, o conforto de um fraldário legal.

Tudo isso no café mais querido de todos, que tem aquele astral, aquele ar livre lindo e o cheesecake mais delícia da cidade. Acho que vai ser massa.

Bora?
Ciranda no Objeto Encontrado
Sábado, 30 de novembro, de 14h às 20h.
Objeto Encontrado – CLN 102, bloco B, loja 56
3326-3504
Inscrições para as palestras pelo email ciranda@objetoencontrado.com.br

Os Midas brasilienses

DJs Criolina Icon

Logo que eu voltei a morar em Brasília me dei conta, meio pasma, que de quase tudo de legal que tinha pra se fazer na cidade havia sempre um mesmo nome por trás: Criolina.

Os meninos que eu até então associava “apenas” à festa que dava sentido às nossas segundas-feiras, de repente viraram onipresentes. O Aparelhinho, bloco mais legal do carnaval, era deles. Festinha para pais e crianças, que sacudiu o parque da cidade? Criolina Kid. Festa lounge super delicinha na Babilônia Norte? Criolina Champagne. O programa de entrevistas mais fofo da internet brasiliense? Deles. Eles tocam em festas de casamento, eles agora têm uma banda com o maior nome do mundo. Mas meu susto maior aconteceu numa reunião de trabalho, quando minha amiga anunciou que a arte do material que estávamos preparando seria assinada adivinha por quem? Pelos meninos do Criolina.

Eu pensei: gente, esses meninos são o Pink e o Cérebro! Eles meninos querem o que? Conquistar o mundo? Daí resolvi entrevistá-los, pra entender melhor essa linda geração de brasilienses que está construindo, festa por festa, uma cidade muito mais divertida.

Quem conversou comigo foi o Rodrigo Barata, que junto com o Rafael Oops e o Tiago Pezão, formam o super trio onipresente que transformam em ouro todas as farras que passam pelas mãos deles.

Meninos, obrigada. Pela entrevista e por fazer a gente feliz.

DJs, músicos, produtores culturais, designers, entrevistadores… Tem alguma coisa que vocês NÃO fazem?
Paraquedas. Mas já já um de nós pula! Acho que o Pezão vai primeiro! O que não nos falta é vontade de fazer o que gosta. Aí a gente vai fazendo e nem pensa muito, se dá, se é difícil, se é viável. Vamos juntando os amigos, e pode saber que só dá pra fazer isso tudo porque a gente tem amigo que só a porra! Todos com muita vontade de fazer acontecer também.

Qual a formação de vocês? Por onde vocês começaram, como tudo evoluiu? 
Pezão trabalhava em agência de comunicação e publicidade, Oops fez artes cênicas, eu era professor de história e baterista. Só que todos já tinham tocado na festinha americana do prédio na pré adolescência, naquela que os meninos levam refri e a as meninas salgado. Daí pra chegar na Criolina, foi um pulo. Tudo começou na Samboquê, festa de música brasileira em um projeto esporádico. Depois virou semanal, mudou de nome e nunca mais parou, vamos fazer nove anos em janeiro. Começou com djs e depois vieram as bandas. Aí fomos convidados pra Rádio Cultura e na sequência pra TV Apoio, em ambos, tivemos programas com o nome da Criolina. E aí depois veio bloco de DJs de carnaval com o Aparelhinho, o nosso trabalho autoral com a banda Space Night Love Dance Lasers, o Sala Criolina que entrevistas os artistas que tocam na Criolina, as camisetas com o design inspirado nos flyers e posters das nossas festas, o Criolina Champagne pra bater papo e curtir som bom pra bater o pezinho, o Kid Criolina pra molecada interagir com os marmanjos e nosso último projeto que foi o Festival Internacional de Inovação Multimídia, o FIIM e tem mais uma porção de projetos menores e alguma prestação de serviço que eventualmente fazemos também.

Onde cada um de vocês se sente mais realizado? Tem um que é mais produtor, outro que é mais músico, etc?
Todos atuam de forma complementar. Por mais que algumas vezes cada um assuma um papel definido em determinadas ações, elas quase sempre precisam do ajuste de um, do pitaco do outro e assim vamos tocando o barco e fazendo juntos, se amando, brigando, a porra toda!  Mas com certeza todos se realizam na música. Ela é o objetivo final.

Tem uma teoria sobre Brasília que toda criatividade nascida aqui vem de um tédio, da eterna fama de “falta do que se fazer na cidade”, de um vácuo. Vocês acham que ocupam tantos espaços por… falta de companhia? (ou de concorrência!)
Ocupamos muitos espaços porque gostamos de fazer muitas coisas e temos muitos amigos e parceiros que também estão na mesma pilha. Portanto a companhia de tantos que estão buscando as mesmas coisas que nós, ajuda a atuar na nossa cidade. O inconsciente coletivo vai virando consciente e vamos atuando em blocos, batalhando e construindo um cena.  E Brasília é uma cidade muito nova, com inúmeras possibilidades. Uma página sendo escrita no tanto que ainda há por vir. E pensar os espaços, as possibilidades de transformação coletiva e deixar sua cidade mais legal pra você mesmo viver, é um exercício eterno pra qualquer um que trabalhe com cultura nesse país.

Vocês acham que esta multidisciplinaridade é uma tendência no mundo atual?
Com certeza! As pessoas vão sendo multi-tudo nesse mundo de informações e formações infinitas. E acabam entrando em contato com conhecimentos diversificados, que vão sendo multiplicados.

Como vocês se organizam administrativa e financeiramente? Vocês são uma empresa, uma ONG? A maior parte dos projetos vêm de projetos de particulares ou de editais do governo? 
Nossos projetos sempre foram independentes. Ano passado que começamos a inscrever mais em editais, meter as caras em projetos e emplacamos o Palco Criolina e a gravação e prensagem do cd do Space Night. Também fizemos um financiamento coletivo via internet para equipar o nosso bloco de carnaval, o Aparelhinho. E como temos diversas atividades precisamos atuar nas duas frentes.

Bora?
Pra ficar absolutamente ligado em tudo o que esses meninos andam aprontando, tá aqui o mapa da mina. Hoje, como toda boa segunda-feira, tem super festa dessa turma no Calaf.

A cidade que tem tudo pra fazer

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Na fila do supermercado. Na fila do cinema. Espiando a conversa da mesa ao lado. Virou, mexeu, pesco a pérola: “o problema é que em Brasília não tem nada pra fazer”.

Claro que, a cada vez, passa rapidamente pela minha cabeça hastear solenemente a bandeira do Quadrado Brasília e provocar uma discussão: defina “ter alguma coisa pra fazer”, colega. Você não tem amigos? Ir a um barzinho bater papo com seus amigos legais não está em pauta? E todos os shows gratuitos da cidade? E cinema, e teatro, e os espaços culturais da cidade, e os cafés? Quer fazer SUP no lago? Quer fazer um curso bacana?

Mas claro também que, dois segundos mais tarde, eu reconheço que se tanta gente fala isso aleatoriamente é porque elas de fato se sentem assim – e têm o direito de se sentir assim. E daí fico quietinha.

Só que a partir de agora não vou mais ficar, não. Vou passar a ter sempre comigo papel e caneta para anotar este endereço e distribuir por aí: www.experimentebrasilia.com.br

As meninas da Tríade, as mesmas que me fizeram apaixonar pela Trilha dos Azulejos, tabularam em uma série de experiências o que há de melhor para se fazer em Brasília. Por “experiências”, entenda-se: passeios criativos, divertidos, diferentes, inusitados, meio workshops, meio city-tours. Jeitos diferentes de conhecer a cidade, de aproveitar a cidade, de celebrar a cidade, fazer amigos, se distrair.

O mais legal: as “experiências” são comandadas por brasilienses típicos, gente que realmente vive tudo aquilo no seu dia-a-dia. Quem leva o Vá de Bike é um historiador e ciclista que, acostumado a percorrer a cidade sobre duas rodas, vai ensinar os melhores caminhos, as dicas, as manhas dos cameleiros da cidade. Quem conduz a Rota Fotográfica é um fotógrafo profissional, que conhece os segredos dos melhores ângulos para clicar nossas curvas.

Papeando e passeando, eles te passam as dicas – e você vive Brasília de um jeito bem mais legal. E nunca mais, nunquinha na vida, você vai ficar por aí resmungando que “não tem o que fazer” por aqui.

Bora?
Conheça todas as experiências do Experimente Brasília.
Este final de semana acontece uma edição do Vá de Bike. Fique de olho nas próximas datas.

Buenos Aires é aqui

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Tá, eu assumo. Eu gosto de comprar quando eu viajo.

É claro que não é pra isso que eu viajo. É pra ver como vivem as pessoas, o que elas comem, como elas falam, como elas passeiam. É pra conhecer a moda de outros cantos do planeta, os filmes de outros cantos do planeta, a música de outros cantos do planeta. Mas… se eu disser que eu nunca na vida entro numa lojinha eu estou mentindo deslavadamente. Até porque as lojinhas fofas das cidades fazem parte de todo este pacote de cultura que a gente visita quando viaja – e trazer um pedaço disso pra casa é trazer a viagem pra sempre com a gente.

Agora que eu convenci vocês de que eu não sou consumista (convenci, né?), deixa eu contar a maior novidade de todas – a novidade que vai fazer seu Natal certamente mais feliz: beibe, Buenos Aires é aqui. Mais precisamente na 407 Sul.

Abriu uma loja FOFA, daquelas que você consegue imaginar perfeitamente plantada no meio da Calle Florida, com todos os objetos de desejo da Mafalda, dos Macanudos, milhões de presentinhos delícia pra você e pros outros – uma loja que vai definitivamente resolver todos os seus problemas de Natal sem ter que se estapear com ninguém por uma vaga no shopping.

A dona, uma argentina lindinha que escolheu a dedo cada objeto da loja, tem uma história para contar sobre cada presente da sua lista.

Não é igual visitar Buenos Aires, mas é quase.

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Bora?
Sr. Mor
CLS 407 Bloco C
Aberto de segunda a sexta das 10h às 19h, aos sábados de 10h às 14h30.

Meu artista preferido no meu espaço cultural preferido

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A subjetividade da arte é uma coisa que me emociona: enquanto tem gente que ama quadros abstratos (um retângulo vermelho e só), tem outros que endoidam numa fotografia de natureza, gente que viaja na sensibilidade da aquarela, outros que só admiram pinturas bem realistas, acadêmicas. Eu adoro desenho. Adoro o traço sobre o papel. E, de todo mundo que faz isso aqui em Brasília, meu favorito disparado é o Virgílio Neto.

Comecei falando da subjetividade porque quando fui contar pra Dani, toda empolgada, que está rolando uma exposição dele na Funarte, ela me disse: sabe que eu nem curto muito? E foi instigados por esse comentário que meus olhos foram conferir a exposição, me perguntando porque eu adorei tudo o que eu vi do Virgílio até hoje.

A conclusão que eu cheguei é que o Virgílio desenha. Ponto. Ele consegue colocar no papel o que o desenho tem de melhor: um snapshot da realidade no calor das emoções, a visão de um expectador sagaz traduzida por mãos de artista. Fragmentos de frases, pedaços de quadros, partes de retratos de pessoas.

A exposição Ausente, Presente passa em revista viagens que o artista fez para lugares bem diferentes: do Brasil profundo a metrópoles canadenses. Nas obras que parecem saídas das moleskines que ele carregava no bolso, polaroides da realidade com um traço artístico te fazem pensar sobre seu lugar no mundo.

Este sábado acontece o lançamento do catálogo e um debate com o curador da mostra – algo que eu talvez nem mencionasse se o tema proposto não me parecesse tão interessante: arte, missão falida. Fiquei bem a fim de ouvir e discutir este tema, tendo como pano de fundo a viagem que o Virgílio nos deu de presente.

Um comentário à parte: como é legal a Funarte, né? Eu devia ir mais lá.

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Bora?
Ausente, Presente
Exposição de Virgílio Neto, até 24 de novembro
“Arte, missão falida”, bate-papo com o curador Paulo Myiada
Sábado, 16 de novembro, às 17h
Galeria Fayga Ostrower, no Complexo Cultural Funarte Brasília
Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural – Brasília – DF (Entre a Torre de TV e o Centro de Convenções)
Informações: 3322-2076 / 3322-2029

Célia, a Estrela, e os pratos mais lindos do mundo

celia

Ter uma porcelana da Célia na mesa de casa sempre foi um sonho de consumo. Não pela fama – eu sabia que os almoços e jantares mais grã-finos da cidade eram servidos nos pratos dela, de casamento a festa em embaixada. Mas não era por isso que eu queria, não. O motivo do meu desejo era menos a marca e mais o conteúdo: o trabalho dela é lindo de morrer, e ponto.

O aniversário da minha mãe foi a desculpa para a primeira visita ao ateliê, que fica no apartamento onde ela mora, na asa sul. Quem atende a porta é uma goiana-mineira, nascida no interior do interior do Goiás, quase divisa com Minas, e com a simpatia evidente nos olhos e no sorriso largo. Célia Estrela é assim: brilha mesmo.

Enquanto eu enlouqueço com os pratos, um mais insuportável do que o outro, a conversa vai e volta por mil assuntos. Vem um chá, uns biscoitinhos e pronto. Se deixar, você vai ficando e não vai embora nunca mais.

Acredite se quiser, Célia é formada em economia e, aos 20 e poucos, chegou a cuidar da execução orçamentária do Ministério da Agricultura. Ela bem que tentou não ser artista, mas claro que não deu certo.

Autodidata, começou a pintar aos 4, em isopor, e pintou o primeiro quadro aos 10. “As pessoas ligam aqui pedindo para eu dar aula, aí eu digo: posso indicar alguém, porque técnica eu não tenho”, diz ela.

Seus pratos são todos pintados à mão, em duas etapas: primeiro com tinta branca, o que deixa a porcelana com aspecto de cerâmica, e depois com a estampa em bordô, preto, azul ou dourado.  A cada etapa, a porcelana queima em forno especial, a 780 graus.

O prato maior varia entre R$ 90 e R$ 100 e o de sobremesa fica em torno de R$ 40, cada um. Os dourados são mais caros porque são feitos com ouro líquido. Não é barato, mas não é injusto – bastou ver a reação da minha mãe, quando recebeu o presente das filhas, pra saber que valeu cada real investido.

Para você que já está sofrendo com as fotos do site: ela vai te mostrar vários outros modelos no arquivo pessoal que tem em casa. Combinar um prato de cada estampa, com pratos de sobremesa (também diferentes entre si) em cima, fica ainda mais insuportável de lindo. Vá lá, sofra, e seja feliz.

Bora?
Célia Estrela
Marque horário com ela: aqui

Gourmetizando o visual

ermida

Pegue este visual aí da foto, a vista da Ermida Dom Bosco – uma das mais lindas da cidade. Refogue com muita música boa. Adicione mais de quarenta opções de comidinhas irresistíveis, daquelas que você há tempos planeja descobrir – devidamente temperadas com preços incríveis, entre R$ 5 e R$ 20. E pronto!

Evento ao ar livre, a cara da nossa cidade, com opções gourmets a preços baixos me parece algo como a fórmula da felicidade. A ideia é tão boa, tão boa, mas tão boa, que o Deguste!, último evento do tipo, atraiu gente demais – o que quase acabou com a graça. Filas intermináveis, longas esperas por um pratinho de comida.

O evento deste final de semana traçou toda uma logística para evitar que o caos dos gourmets se repita. O primeiro trunfo é que vai haver muita opção diferente: são 46 mini-restaurantes, divididos em níveis diferentes da topografia da Ermida, o que vai garantir a boa circulação de pessoas. Os chefs que atraem mais público terão um caixa próprio, evitando a duplicidade de filas.

Além disso, às 17h, quando normalmente há maior número de pessoas, vai rolar um esforço concentrado de happy hour: vinte novos expositores começam a oferecer quitutes de boteco a R$ 10. Tudo milimetricamente pensado pra todo mundo ficar feliz da vida curtindo o som e o visual.

Claro, porque ainda por cima tem oficinas fofas (decoração de cupcakes para crianças e oficina de café coado – qual o nível de fofura?) e som maravilhoso, comandado pela Mimosa.

Caso você ainda não tenha adivinhado, quem está por trás de tanta ideia massa é o pessoal do PicNik – e isso significa diversão garantida.

Bora?
Quitutes
Sábado, 9 de novembro, a partir das 13h
Orla da Ermida Dom Bosco, acesso pela SHIS QL 32
Entre os expositores, restaurante Aquavit, Loca Como Tu Madre, Varanda pães artesanais, Universal Diner. Todos os expositores aqui.
Haverá transporte público gratuito saindo do Museu da República.

Oficinas (inscrições no local, sujeitas à lotação):
15h – Decoração de Cupcakes para Crianças por Helen/Belos Caramelle
16h – Princípios Fundamentais da Nutrição Ayurveda e o Yoga por Mário J. P. Neto
17h – Oficina de Café Coado por Bebel/Objeto Encontrado
18h – Palestra/Degustação de Vinhos Rosé por Carlos Soares/Wine Moving
19h – Premiadas Comidinhas de Bar por Ville Della Penna

Estão metendo a mão em Brasília e (quase) ninguém percebeu

bsb

O problema se chama Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, conhecido como PPCUB. Esse é o nome do projeto de lei que o GDF mandou para a Câmara Legislativa e é alvo de muitas críticas do Ministério Público e de várias entidades ligadas à arquitetura e à preservação de Brasília. Graças a essas entidades, nós, que somos leigos, podemos entender o perigo por trás de tantos termos técnicos. E o caso é grave, bem grave.

Como o próprio nome da lei adianta, o objetivo é nobre: consolidar a legislação de preservação urbanística da cidade. É um texto técnico, que define a forma de ocupação da área tombada de Brasília (Plano Piloto, Sudoeste, Noroeste, Octogonal, Cruzeiro e Candangolândia). Nele, estão os usos permitidos ou proibidos de cada região (residências, comércio, indústria, etc.) e a forma dos prédios serem construídos (altura máxima, área de construção máxima, por aí vai).

O perigo está nas entrelinhas: no meio de 247 artigos e de 70 planilhas enormes, estão espalhados termos vagos que abrem brechas para muita coisa estranha e que pode afetar a cidade de forma irreversível. Como? Milhares de metros quadrados de áreas públicas poderão ser entregues à iniciativa privada, garantindo a festa da nossa já bizarra especulação imobiliária (só para citar uma consequência).

Depois de uma conversa com o movimento Urbanistas por Brasília, e com base na análise da arquiteta Vera Ramos, foi possível resumir os perigos desse projeto. Vamos lá:

1. Loteamento da parte oeste do Eixo Monumental

Sabe a área verde do canteiro central do Eixo, que fica entre o Memorial JK e a Rodoferroviária? Então. O PPCUB permite o loteamento dessa área em lotes de até 20 mil metros quadrados. À imprensa, o GDF diz que o uso principal será para bibliotecas, arquivos e museus, mas o projeto permite também restaurantes e lojas de artigos culturais, recreativos e esportivos. O PPCUB não deixa claro se esses restaurantes e lojas só serão permitidos dentro de museus, ou seja: abre a possibilidade de um loteamento comercial no meio do Eixo Monumental.

2. Privatização de lotes nas Unidades de Vizinhança

O projeto autoriza que empresas privadas explorem, por meio de concessão de uso, os lotes destinados a escolas, creches e equipamentos públicos dentro das superquadras. No caso das unidades que ficam nas entrequadras, o caso é ainda pior. O projeto prevê não só a concessão de uso, como a alteração de uso. Pensando alto, uma escola parque poderia virar um shopping, por exemplo.

3. Transformação de clubes em hotéis (leia-se condomínio residencial fechado)

O PPCUB libera, de imediato, oito lotes do Setor de Clubes Sul para a construção de hotéis. Vale lembrar que, desde 2009, todos os hotéis construídos em áreas de clubes foram lançados e ocupados como condomínios residenciais fechados. Além de não resolver os casos antigos de ocupação irregular da orla, o GDF abre a porteira para que esse processo se amplie. Em 2001, a Unesco frisou a necessidade de impedir qualquer construção residencial à beira do lago, como condição para Brasília manter o Título de Patrimônio Mundial. A recomendação, pelo visto, não surtiu efeito algum.

Aqui vale um parêntese. Uma das coisas mais lindas de Brasília, o lago sempre foi fonte de lazer exclusiva da elite. A ausência total de uma política de transporte público para a orla revela a intenção de manter o status de exclusividade do cartão postal: só chega perto quem tem carro, e só aproveita quem tem dinheiro e condições de sentar em um dos restaurantes. O PPCUB vem para reforçar essa cultura deprimente. Esse espaço de lazer coletivo possivelmente será transformado no metro quadrado mais caro da cidade, e de forma irregular.

4. O GDF vai poder planejar a cidade por decreto

O PPCUB permite o fracionamento de grandes lotes em cerca de 20 setores da cidade e o aumento da altura máxima de edificações em 13 setores. Além disso, deixa brecha para alteração de uso em quatro áreas, incluindo o Setor de Garagens Oficiais (SGO), que fica entre o Detran e o Setor Militar Urbano. Novamente, o texto é vago e não define parâmetros, o que significa o seguinte: se o PPCUB liberar, a cidade poderá ser alterada repetidamente por meio de decretos do governador, sem sequer passar pela Câmara Legislativa.

5. A invasão de hotéis na 901 Norte vem aí

Depois de muita polêmica e pressão do Iphan Nacional, o GDF aceitou retirar do PPCUB os artigos que transformavam a 901 Norte em um complexo hoteleiro, uma espécie de expansão do Setor Hoteleiro Norte. O detalhe é que, no lugar desses artigos, o PPCUB avisa que essa questão será tratada em novo projeto de lei, a ser criado pelo governo. Aguardem.

6. A parte leste do Eixo Monumental vira um mistério

A área verde do canteiro central do eixo, entre a Rodoviária e o Congresso, ganha a função de “parque público ou parque urbano”. Alguém sabe o que é isso? Ninguém, nem o PPCUB, já que o projeto não explica essa classificação, abrindo margem para a criatividade alheia.

7. A preservação de Brasília fica ainda mais complexa

O GDF não atende a mais uma recomendação da Unesco, de criar uma instância única de preservação, em contato próximo com o Iphan. Ao contrário, o PPCUB cria mais instâncias de conselhos e câmeras técnicas. O que era grego vira chinês, mais ou menos isso.

“Não é o caso de dizer que o PPCUB está todo errado”, pondera o arquiteto Cristiano Nascimento, do movimento Urbanistas por Brasília. “O texto melhorou um pouco desde a primeira versão que o GDF tentou aprovar em 2012 e os artigos detalham os conceitos urbanísticos que definem a preservação de Brasília. O problema está nos erros de redação, nos termos vagos e nas 70 planilhas que estão no anexo. São diversas alterações propostas sem justificativas ou com um potencial incrível de danos à cidade. O PPCUB não está amadurecido o suficiente para ser levado à votação.”

A briga em torno dessa lei começou no ano passado, antes mesmo do envio do texto para a Câmara Legislativa. A pedido do Ministério Público, a Justiça chegou a anular a reunião do Conplan que aprovou o PPCUB neste ano (o Conplan é um conselho do GDF responsável por aprovar esse tipo de projeto antes do envio aos deputados distritais). A briga na Justiça continua, mas o GDF mandou o texto para a Câmara mesmo assim.

No ano passado, a Missão da Unesco, que veio analisar os riscos ao Título de Patrimônio Mundial de Brasília, recomendou expressamente ao GDF a paralisação do PPCUB e sua revisão por uma comissão formada por várias entidades, incluindo a UnB, o Iphan e a sociedade civil organizada. Recomendação prontamente ignorada pelo governo.

Enquanto isso, a Câmara Legislativa já promove audiências públicas para discutir o projeto, que foi enviado pelo GDF em regime de urgência – isso significa que a Câmara tem de aprovar o texto em 45 dias corridos, caso contrário fica impedida de votar qualquer outra proposta.

A próxima audiência pública será nesta quarta-feira (dia 6), então esse looongo texto (talvez o mais longo do blog) tem essa missão: chamar você para encher a Câmara Legislativa, participar do debate, gritar, espernear e fazer a pergunta que não quer calar: por que tanta pressa para aprovar isso? A quem interessa?

Bora?
Audiência pública para debater o PPCUB
Quarta, 6/11, às 19h
Auditório da Câmara Legislativa do DF
Criaram um evento no face: aqui

Foto: Arquivo Público do DF